sábado, 9 de janeiro de 2016

Walmart: gestão incompetente e crise


A rede de supermercados Walmart anunciou, no apagar das luzes de 2015, que fechará em torno de 25 lojas no Brasil. É a crise, afirmam. E encontram ecos entre os leitores da notícia.

No entanto, esse anúncio tão somente veio esclarecer, afinal, uma situação que me causava interrogações há algum tempo. Explico-me.

Resido nas cercanias de uma das lojas do Walmart que, durante um bom tempo, foi o endereço certo onde fiz as compras para atender às demandas domésticas. Várias razões justificavam essa escolha: praticidade, proximidade, agilidade. Nem sempre os preços eram os mais baixos, mas as demais vantagens acabavam por compensar.

No entanto, ainda em 2014, começaram alguns problemas.

O fato de terem demarcado vagas especiais e faixas para circulação de pedestres no estacionamento poderia apontar para um ponto positivo, não fosse o fato de os próprios funcionários do supermercado serem os primeiros a não respeitar as vagas e as faixas. Mais que isso, a gerência fazia vista grossa às observações a respeito, quando não justificava a conduta dos funcionários, chegando mesmo a alegar que eles estariam sendo orientados a se portar daquela forma. Essa seria uma questão menor? Não me parece. Eu prezo muito pela civilidade, luto por uma sociedade que respeite os direitos cidadãos, e essa comparece como uma questão cara, muito cara.

Mais tarde, a fila única para atendimento nos caixas-rápido, que funcionava de modo muito eficiente, foi desfeita, e adotadas filas individuais para cada caixa disponível. Rapidamente, clientes com seus carrinhos lotados, com mais itens do que o previsto para os caixas-rápido, passaram a se aboletar nessas filas, e os funcionários não tinham autorização para encaminhá-los para os outros caixas. Outros problemas somaram-se aos desse tipo, de modo que, se na fila única eu gastava no máximo 20 minutos para pagar alguma mercadoria, no novo sistema passei a gastar no mínimo meia hora. Procurei, todas as vezes, pela gerência do supermercado para explicar o que estava acontecendo, e como resposta ouvi, em todas as vezes, que eles tinham feito uma pesquisa e aquela era, sim, a maneira mais eficiente de organizarem as filas. A minha experiência, como cliente, não tinha importância: por princípio, estava errada. E não foi levada em consideração, mesmo quando os adverti que eu deixaria de fazer compras ali.

Nesse ínterim, percebi o aprofundamento de uma certa tensão na atuação dos atendentes, o que em muitas circunstâncias acabava resultando em rispidez, falta de educação e até desrespeito.

Aos poucos, desviei meu percurso para fazer as compras necessárias em outro supermercado. Há muito tempo deixei de ir ao Walmart, e sequer tenho intenção de voltar.

E me perguntava: Será que só eu é que me incomodo com essa conduta por parte do supermercado? Será que ninguém mais se ressente? Será que as pessoas continuam comprando, apesar de serem mal atendidas, desrespeitadas?

A resposta veio com essa notícia, que acabou não me surpreendendo: sim, além de mim, mais pessoas deixaram de comprar no Walmart, tantas, a ponto de os lucros já minguarem, e eles não terem mais interesse em manter sua rede intacta. Agora, fecham lojas atribuindo a responsabilidade à crise econômica brasileira. Jamais assumirão a incompetência de gestão como fator preponderante para o quadro que se desenha.

Afinal, a crise na economia brasileira, entre outros fatores, também é devida a empresas que se comportam dessa maneira, sem maiores compromissos com a sociedade na qual está inserida, e sem responsabilidade com gestão competente. 











sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Selfie

P/ Ruth e D. Alice, meus amores

(Minha irmã e minha mãe)
O síndico de um outro prédio monitora poças de água em lugares escondidos usando um pau de selfie...
Pau de que?
Selfie.
Sel... o que?
Selfie. É uma foto que a senhora faz da senhora mesma.
Como chama?
Vou comprar um pau de selfie para a senhora!
(risos)


(Eu e minha mãe)
Vou mostrar para a senhora o que é uma selfie. Vamos fazer uma.
(Posiciono a câmera do aparelho celular. Estamos as duas na tela. Peço que toque o dedo, para tirar a foto. Tudo ainda é estranho. O dedo trabalhador não é muito afeito às sutilezas e frescuras da “touch screen”...)
  
Pronto: a senhora fez uma selfie nossa. Mas sua cara ficou meio arrenegada. Faz outra.


'Tá parecendo que estou chorando. Não gostei.
Isso, pode fazer outra.


Agora sim! É que eu fico concentrada e esqueço de sorrir...


(Dominando o mecanismo)
Vamos fazer uma com nós três! A senhora fotografa.
(Ela segura uma mão com a outra, para ajudar a firmar o gesto. A mão aparece na tela.)


Então selfie é uma foto que a gente faz da gente, com o dedo na tela do celular...


Ah, o pau de selfie? Deixa prá lá...







quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Sobre Guerra nas Estrelas e alguma nostalgia


Ontem fui ver o campeão de bilheterias do momento. Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens), ou Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força. Como queiram.

Divirto-me observando quem vá ver filmes com produção como essa e depois façam longas críticas, apontando problemas, defeitos, e comparando-os aos primeiros da saga, desqualificando as produções mais recentes.

Confesso que fui desvestida de qualquer expectativa, ou de protocolos para análise e avaliação. Fui por entretenimento. Fui ouvir e ver uma história que se conecta a um conjunto de outras histórias já contadas, mas que deve também ser degustada em sua individualidade.

Considero positivo o resultado da minha predisposição. Surpreendentemente, foi o filme que me conduziu a memórias, afetos, e mostrou a mim mesma como diante de um espelho. Foi bom olhar. Foi bom ouvir.

Assisti ao Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança no final dos anos 1970. Eu não tinha, ainda, 20 anos. A Princesa Leia teria um pouco mais que isso. Era um tempo de efervescências. Em plena ditadura militar, a metáfora do embate entre a sombra e a luz ganhava uma potência extra. Vi os dois episódios que se seguiram. Acho que já não tinham a intensidade inaugural do Episódio IV, mas ligavam-se a ele, articulando sentidos à história que já se instalara, de modo indelével, no meu imaginário.

A segunda trilogia, lançada duas décadas depois da primeira, encontrou outro cenário político e social, outras tensões moviam os afetos. Os recursos tecnológicos digitais que animavam as imagens e os sons suplantaram as referências artesanais com que a primeira trilogia fora realizada, de modo que poucos elos pareciam ligar uma à outra de modo mais explícito, orgânico. Apesar de tratar da mesma saga, descolara-se, a segunda, da primeira, na forma, no ritmo, no espírito. Além disso, o embate entre as sombras e a luz ganhou dubiedades, já fora de contextos tão claramente divididos, como anteriormente: EUA e URSS, esquerda e direita, ditadura e democracia. O Muro de Berlin já fora derrubado.

Ainda e assim, as histórias trouxeram apelos e energia próprios, capazes de encantar.

Mas ontem, ao assistir ao Episódio VII, e ver os rostos envelhecidos de Hans Solo e da Princesa Leia, vi o meu próprio rosto quase quatro décadas depois do episódio inaugural. Mais que isso, entendi que os embates de então não acabaram. Acho mesmo que nunca acabarão. Hoje apresentam-se a mim um pouco mais envelhecidos. Talvez tenham mudado de roupagem, de direção e estúdio. Mas os reconheço como os mesmos. São os mesmos do mesmo modo como eu sou a mesma, ainda que já não...

Sempre renovados, os conflitos, as tensões, as lutas são continuamente restituídos, reinstalados. Repassados às novas gerações, que as assumem como se inaugurais...

Que a força esteja... 




Sibipiruna, Canafístula e Guarapuvu e suas florações

Das mimosas árvores sibipiruna









Das expansivas árvores canafístula







Das altivas árvores guapuruvu

















sábado, 2 de janeiro de 2016

A propósito da representação da tentação pelas frutas

 p/ Rubem Alves, in memorian.

Há algum tempo, li um texto em que Rubem Alves argumentava três prováveis equívocos na tela Adão e Eva, de Dürer. Vou logo ao terceiro deles, no qual discordava da escolha da maçã como fruta que devesse representar a ideia de tentação. Para ele, o fruto proibido tinha de ser portador de um poder de sedução, e a maçã pode ser considerada uma fruta pudica, que “não se despe por vontade própria, só tira a roupa sob a violência da ponta da faca. E ainda geme quando é mordida. Comer uma maçã é sempre um estupro”. 

Não tive escolha senão concordar com ele quanto a essa inadequação da imagem da maçã à ideia de tentação. Sem desqualificar a maçã em nenhum de seus dotes (eu adoro maçãs). Mas, afinal, qualquer um pode comê-la e sair para uma festa, ou para a missa, assim, mesmo com a cara deslavada, como se nada lhe tenha passado. Ela não lambuza quem a saboreie.

No mesmo texto, o autor reivindicava o status de fruta da tentação para o caqui. Segundo ele, o caqui seduz, chama a devorá-lo, desfazendo-se em sumos suculentos mal seja tocado.

Esse texto faz referência a uma palestra que Rubem Alves teria dado, e os desdobramentos, muito tocantes, podem ser lidos neste link: "O caqui"

Hoje, enquanto partia uma jaca enorme, macia, endiabradamente permufosa, lembrei-me do texto. Pensei na maçã, no caqui... Mas fiquei me perguntando se Rubem Alves teria comido jacas...

As jacas são seres com quem as relações se estabelecem sem meios-termos: ou se ama, ou se rejeita totalmente. Sua casca é resistente e áspera, pode machucar os desavisados. Mas quando se põe madura, entrega-se. O fruto grande cede à queda. Quase sempre, sob o peso, conforme a altura, rompe a casca, exalando cheiros, prometendo sabores. O corpo aberto oferece bagas adocicadas, que podem ser buscadas entre a carne macia, viscosa, afeita ao toque das mãos.

Entremeei os dedos nas fibras, deslizei buscando cada baga. Algumas eu degustei com prazer. Outras, guardei para mais tarde. Coisa boa, a gente vai saboreando aos poucos, para delongar as delícias... e as tentações...











sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Tradições e contradições



No calendário está marcado: o dia primeiro de janeiro é também o Dia Internacional da Paz.

Não estou muito certa se os celebrantes lembram disso durante as festividades pela chegada do Novo Ano, enquanto se deslumbram com os fogos de artifício traçando desenhos de fogo no céu, e deixando rastros de fumaça.

Mas também não posso deixar de pensar numa curiosa contradição: celebra-se o início de um novo ano, cujo ponto de partida é o Dia Internacional da Paz, fazendo uso de fogos de artifício, cuja invenção vem entrelaçada com o desenvolvimento de armas de guerra, que têm a pólvora e os explosivos como elemento em comum...

Talvez os fogos venham, repetidamente, espantando a paz, ainda mal esboçada em seus primeiros minutos do ano... e talvez por isso mesmo seja tão difícil alcançá-la, nos demais dias do ano recém iniciado...

Vai saber?






Na passagem do ano, à meia noite, eu estava dormindo... ou tentando dormir...


Todo mundo já comemorou a entrada de 2016. Há quem esteja de ressaca, com sono, com o corpo cansado dos festejos. Então agora eu posso lembrar algumas curiosidades relativas a esta data, sem passar por chata...

Para início de conversa, o dia primeiro de janeiro como marca para contagem da passagem de ano foi estabelecido entre a maioria dos países há menos de 500 anos. Ou seja: depois que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, iniciando a colonização portuguesa. Assim, o dia 1º de janeiro como data do Ano Novo é mais jovem que o Brasil colonizado por Portugal.

Mas as marcações da passagem do tempo tem a mesma idade das invenções dos calendários pelas quantas civilizações que tenham habitado, já, o planeta. Como pouco se sabe dos calendários maia, inca, e de quantos outros dos quais sequer tenhamos conhecimento, falam-se mais, por exemplo, dos calendários babilônicos. Tem-se notícia, por exemplo, de que, na Mesopotâmia, por volta do ano 2000 aC, acontecesse uma espécie de Festival do Ano Novo, que começava na lua nova do equinócio da Primavera, o que ocorria em meados de março. Uma data móvel.

Já os assírios, persas, fenícios, egípcios e gregos marcavam outros referenciais em seus calendários para celebrar o início de um novo ciclo anual.

Teriam sido os romanos os primeiros a estabelecer um dia fixo para a comemoração do Ano Novo, por volta de 753 aC: 1º de março era quando o ano começava. Essa data foi trocada para o 1º janeiro em 153 aC. Mas continuou sendo uma demarcação entre os romanos.

Só em 1582 é que a Igreja Católica decidiu consolidar essa escolha romana, integrando-a ao calendário gregoriano. A partir da atuação da igreja, a data foi sendo gradualmente incorporada por outros países, de modo que atualmente é adota pela maioria. Parece que a adoção por um número maior de países de uma mesma data, na base, tem uma base em interesses econômicos, muito mais do que qualquer outra fundamentação...

No entanto, mesmo hoje, em tempos de globalização, há alguns povos e países que celebram a passagem do ano em datas distintas, de acordo com diferentes referenciais. Na China, por exemplo, essa data é móvel, e acontece entre o final de janeiro e o início de fevereiro. São as demarcações que observam, por exemplo, o horóscopo chinês, bem conhecido entre os ocidentais. Já na comunidade judaica, não só a data é diferente, como o próprio calendário para a contagem das eras é outro. E a festa de celebração ocorre entre meados de setembro até o início de outubro. Entre os islâmicos, o Ano Novo é celebrado em meados de maio.

Na casa da minha mãe, a entrada da Primavera é reverenciada, a cada ano, como a efetiva marcação de início de um novo ciclo. Sua importância supera a do Natal e Ano Novo oficiais.

E viva a diversidade!